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TEXTO CURATORIAL

BRASIL

A construção histórica de nosso território uma vez chamado "terra brasilis" pertence a uma matriz colonizadora. Temos uma história marcada por extermínio de povos e culturas diversas, escravidão de povos africanos, grilagem de terras, destruição do ecosistema e verdadeiro terror em nome de deus.

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O domínio que se estabelece e naturaliza-se desde o “descobrimento” é o heteronormativo-branco-europeu-cristão ou logo-ego-falo-centrico. É o que prevaleceu e é através desse domínio que aprendemos a ser quem somos e a nos submeter gentilmente àquilo que abusa e mortifica nossos corpos... estamos cansades!

 

Ávidos de novas composições, nossos silenciados corpos resistiram por séculos, enquanto serviam e se esqueciam daquilo que lhes é próprio enquanto corpo vivo da Terra. Todavia, este silêncio é aparente e nunca se conteve. Marcas do tempo e memórias invisíveis atiçam movimentos de passagem que criam nossos tempos agora: um novo povo, uma nova comunidade, menos “humanizada” e farejante de seus saberes apagados.

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Para tanto, o intempestivo da história só precisa ser atualizado e, de nossas diásporas, surgir a força para encontrarmos novas linguagens que difiram das dominantes.

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Será justamente através de nossos afetos ilógicos diante desta impostora matriz racional que se manterá os pulsos de existência nesta terra? Pulso de resistência para criar no agora um novo traçado nas possibilidades de vida que ainda dispomos. É disso que fazemos futuro: constante elaboração de afetos invisíveis, porém presentes.

"somos todes bricoleurs".

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De acordo com essa paisagem é que optamos por uma cartografia afetiva para a estruturação de nossa proposta curatorial. Nesta cartografia, através de processos continuados junto à formação do comitê local, trabalhamos no sentido de gerar algo que seja novo enquanto proposta, baseada no fato de que não desejamos uma representação de um território, objetificando-o. Mas alçando um recorte singular de uma produção do sensível colaborativa.

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Optamos por não abrir uma convocatória extensa e sim nos organizarmos através de convites a artistas locais. Cada membro do comitê brasileiro fará seus convites e organizará suas formas de compartilhamento, seguindo premissas comuns. 

TEXTO CONTINUO LATIDO DE PERFORMANCE

Organizamo-nos para participar deste encontro de performance latino-americana com o objetivo de estarmos presentes nesta rede fraterna de artistas que sempre está em ação, sem nome e sustentada por laços de empatia e um profundo desejo de conhecimento e reconhecimento mútuo, uma rede em constante movimento e propósito vital, com parcerias momentâneas e rizomáticas que agora se auto-convocam com o desejo de articular uma integração abrangente de e para artistas da performance de toda a América Latina, incluindo suas diásporas.

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Entendemos esse impulso no sentido de continuidade com o legado de todas essas memórias e como uma construção coletiva que pretende sustentar formas de vinculação e de trabalho em um sentido horizontal, de apoio mútuo, não centralizante, para contribuir na consolidação e multiplicação dessas tramas e nós em diálogo regional entre os países latino-americanos a fim de conhecer e abraçar o olhar dos nossos colegas, aprofundar a reflexão desta disciplina nos nossos contextos e a missão de dar maior fluidez e potência aos laços já criados. Nos conhecer, nos aproximar, nos organizar é um mecanismo que nos permite implementar estratégias de contenção, alertas antecipados  ativando mecanismos de cuidado com o Outro.

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Nos convoca a ter possibilidade de gerar novos meios de encontro, investigação e produção de conhecimentos desvelados, diversos, com um compromisso de historicidade viva e resistência transformadora em circunstâncias de crise ambiental global, violência patriarcal e extrema brutalidade neoliberal.

 

Brasil, 30 de setembro de 2020

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